Psicólogo Clínico

Sobre projetos sociais e modo de trabalho em geral

Minha visão sobre a psicologia

Desenvolvo e coordeno projetos comunitários desde antes mesmo de concluir minha formação em Psicologia. Para mim, o conhecimento que um psicólogo precisa para atuar bem em consultório não vem apenas dos livros ou teorias, mas da convivência com pessoas das mais diferentes realidades e do esforço de compreender, na prática cotidiana, como cada uma delas funciona.

A psicologia, como eu a entendo, começa quando nos misturamos com a psique dos outros, da sociedade e da cultura — e somos desafiados a sentir junto, refletir sobre o que o outro sente, sobre como nos comunicamos e agimos, sem sermos engolidos por emoções desenfreadas. É nesse exercício de observar, refletir e elaborar, com calma e atenção, que nasce uma postura verdadeiramente analítica.

Por isso acredito que a psicologia não é propriedade de ninguém, mas de todos. Ela não está restrita aos psicanalistas, nem à psicologia baseada em evidências, muito menos aos manuais diagnósticos ou às filosofias de grandes mestres religiosos. A psicologia pertence à psique — de cada um e de todos. Ela é um ato, algo que acontece aqui e agora, no ethos, na relação entre eu e qualquer coisa, até mesmo com o Si Mesmo.

Assim, quando vou a uma escola e conheço a realidade dos professores, observo o desenvolvimento das crianças, ou quando converso com o padeiro enquanto tomo um café depois de um grupo terapêutico ou palestra, sigo exercitando esse ser psicólogo. Porque, no fundo, esse é um exercício que qualquer pessoa pode fazer. Psicologicamente, é possível até voar e levitar. O que exige uma carteirinha do Conselho não é esse ato em si, mas o compromisso com diagnósticos, laudos, atestados — e a responsabilidade de responder por cada palavra dita dentro de uma sala onde alguém deposita sua intimidade e paga por isso.

Atendo a comunidade tanto para praticar meu ofício quanto para lavar a alma. Ao trabalhar diariamente com o sofrimento humano, é impossível não desejar arregaçar as mangas e ajudar de forma prática em situações que os atendimentos individuais não permitem. Não considero necessário cobrar por esse compromisso, pois em si ele já é um ganho — para mim e para todos com quem caminho. Imerso na comunidade, fazendo meu trabalho, não apenas aprendo muito com a prática, mas me conecto profundamente com pessoas.

Não alimento redes sociais digitais porque, para mim, elas são dispensáveis e contradizem minha filosofia. Aprendi que a melhor propaganda é estar inserido no coletivo e, como um sapateiro, produzir bons sapatos — principalmente em uma sociedade onde muitos diplomados em “sapataria” fazem cada vez mais propaganda de seus sapatos e cada vez menos os produzem de forma real. É um jeito antiquado, eu sei, mas acredito no bom e velho boca a boca. Isso me poupa de muitos transtornos, como o de tentar parecer alguém que tem todas as respostas. Esse não é o meu trabalho.

O que é o meu trabalho

Desde o início da carreira estive associado ao ambiente escolar. Ainda na graduação, participei como voluntário na rede de solidariedade Marista, auxiliando professores a adaptar suas aulas para casos de autismo que eu estudava na época. Recém-formado, organizei minhas primeiras palestras no Colégio Romário Martins, em Piraquara — quando, de vestido longo, dividi o palco com professores para abrir espaço a uma conversa diferente e bem-humorada.

A partir daí, passei a me interessar cada vez mais pelos estudos sobre a adolescência e acolhi diversos casos encaminhados pela direção desta e de outras escolas do município. Continuei desenvolvendo palestras e projetos comunitários, e em 2024 realizei meu último trabalho em Piraquara: junto com o amigo e colega de profissão Ronaldo da Matta, conduzi uma pesquisa sobre saúde mental em turmas do 1º ao 3º ano do ensino médio em escolas da região.

O projeto, que trouxe bons frutos e muito aprendizado, contou com o carinho especial dos alunos da Escola João Batista Vera (C E-EF M). Foi uma experiência que me incentivou a aprofundar os estudos sobre a transição da adolescência para a vida adulta na modernidade — tema que agora pretendo desenvolver em projeto de mestrado e que inevitavelmente é muito frequente entre pacientes de 19 a 25 anos.

A clínica e o atendimento são meu sustento. Meu verdadeiro trabalho, porém, é seguir firme com minha terapia e supervisão, pagando caro — tanto financeiramente quanto psicologicamente — para que profissionais mais experientes do que eu me ajudem a lidar com meus próprios problemas, contornar preconceitos e vícios, e me auxiliar a ser cada vez mais um profissional capaz de estabelecer diálogos produtivos e transformadores com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo e de qualquer esfera da sociedade.

Em suma, meu trabalho — dentro e fora do consultório — é consequência direta da minha visão sobre a psicologia. Nos projetos comunitários, ele se manifesta coletivamente; no consultório, ele se torna íntimo e pessoal. Em ambos os casos, sigo o mesmo princípio: estar junto das pessoas, de forma honesta, acessível e responsável, enfrentando a vida como um ser humano real, e não como um especialista tão afastado do senso comum que já não consegue mais se fazer entender.

Esse sou eu, e isso é o que eu faço.

A partir de 2026, seguirei com novos projetos e parcerias na região do Barreirinha/Cachoeira e estarei à disposição da comunidade e de instituições que desejarem caminhar junto nesse processo — próximo da minha nova casa, prestando meus serviços em suas múltiplas formas, vivo e atento aos problemas reais, mais do que aos diagnósticos ou às “novidades” criadas pela sociedade e pela ciência.